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PRESS RELEASE
Lideranças Religiosas, Sociedade Civil e Academia Proclamam “Declaração do Rio Negro” e Conclamam por Ação Climática Urgente na COP30
Documento inédito, adotado às margens do Rio Negro, está sendo apresentado durante a COP30 em Belém e define compromissos concretos para transformar a conferência na “COP da Implementação”
13 de novembro de 2025 – Em uma cerimônia simbólica realizada em 31 de outubro às margens do Rio Negro, em Manaus (AM), lideranças do campo religioso e inter-religioso, representantes da sociedade civil e academia proclamaram a “Declaração do Rio Negro”, um chamado urgente e colaborativo por ação climática concreta que está sendo apresentado durante a 30ª Conferência das Partes sobre Mudança do Clima (COP30), que acontece em Belém (PA) neste mês de novembro de 2025.
A proclamação integrou as atividades da sociedade civil antes da COP30, cadastradas no Brasil Participativo como parte da mobilização territorial em diferentes regiões do país.
A Declaração, resultado de um amplo processo participativo envolvendo tradições religiosas, espirituais, organizações da sociedade civil e instituições acadêmicas, estabelece que “o tempo das promessas acabou” e apresenta compromissos urgentes direcionados a governos, setor privado, comunidades religiosas, sociedade civil e setor educacional.
Simbolismo do Rio Negro e Urgência Climática
A escolha do Rio Negro como cenário para a proclamação da Declaração carrega profundo simbolismo. O sétimo maior rio do mundo em volume de água, que nasce nas montanhas colombianas e percorre 2.250 quilômetros até encontrar o Rio Solimões, é testemunha eloquente da crise climática: em 2021, alcançou sua maior cheia histórica; em 2023, seu nível mais baixo em 121 anos.
“O encontro das águas negras do Rio Negro com as águas barrentas do Solimões, que correm lado a lado sem se misturar por quilômetros, nos ensina que diferentes origens e trajetórias podem fluir juntas mantendo suas identidades enquanto caminham em direção a um destino comum”, afirma o texto da Declaração, sublinhando o espírito de convergência que une diferentes tradições, crenças e povos em torno de um compromisso compartilhado com a vida.
Os Cinco Pilares da Declaração
A Declaração do Rio Negro articula-se em torno de cinco eixos temáticos fundamentais. O primeiro é o Clamor pela Vida, que reconhece o sofrimento das populações amazônicas e de regiões tropicais diante de enchentes, contaminação de rios, queimadas e secas extremas, conclamando a um novo pacto global em que fé, ciência e ação restaurem a dignidade humana e do planeta. O segundo eixo, Responsabilidade Intergeracional, afirma que a Terra é herança sagrada a ser transmitida às futuras gerações, exigindo metas concretas de limitação do aquecimento global e respeito aos direitos dos povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais.
A Transição para Economias Regenerativas constitui o terceiro pilar, propondo a substituição da lógica extrativista por modelos baseados em reciprocidade, simplicidade e equilíbrio com os ciclos naturais. O quarto tema, Integralidade da Vida: Pessoas, Planeta e Prosperidade, reconhece que não há prosperidade humana sem a saúde dos ecossistemas, defendendo uma consciência ecológica integral que supere a falsa dicotomia entre desenvolvimento e conservação. Por fim, Cooperação e Responsabilidade Compartilhada enfatiza que nenhuma nação, tradição ou setor pode enfrentar sozinho a crise climática, sendo necessária colaboração sem precedentes entre governos, setor privado, comunidades religiosas, povos indígenas e sociedade civil.
Vozes de Apoio à Declaração
O documento é fruto de uma construção colaborativa inspirada e apoiada por diversas instituições religiosas, inter-religiosas, da sociedade civil e da academia. Lideranças que acompanharam o processo de elaboração e proclamação expressaram a força e o significado deste momento histórico:
“Assim como o encontro das águas do Rio Negro e do Solimões dá origem à imensidão do Rio Amazonas, este encontro de lideranças religiosas, espiritualidades, povos indígenas e comunidades tradicionais, ativistas e acadêmicos, potencializou uma única voz: a da Declaração do Rio Negro”, afirmou o Revdo Iuri Lima, Coordenador da Rede Amazonizar e Clérigo da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil. “Esta Declaração carrega o calor e a generosidade da Amazônia, que é o 'Coração do Mundo'. Não é apenas um documento técnico; é um clamor espiritual, moral e ético por um novo pacto global pela vida.”
Para Vanda Witoto, liderança indígena e Diretora do Instituto Witoto, a crise climática é também uma crise espiritual: “Perdemos a capacidade de nos entender como natureza. Nossos povos indígenas são povos que se relacionam de forma espiritual com a Terra porque a consideram sagrada: consideramos o rio sagrado como nosso avô, consideramos a Terra como nossa mãe sagrada, consideramos a floresta como nossa irmã sagrada. A natureza é um ser vivo e é um parente. E, como parente, merece existir, merece estar viva e ter seus direitos garantidos.”
Carlos Vicente, Coordenador Nacional da Iniciativa Inter-religiosa pelas Florestas Tropicais (IRI), destacou: "A superação da crise climática e ambiental que enfrentamos exige transformações profundas na forma como nos relacionamos com a natureza. É urgente cuidar com responsabilidade das florestas, das águas, dos solos, da atmosfera e da biodiversidade — bens sagrados que sustentam a vida. As lideranças religiosas têm papel fundamental nesse processo, pelo seu imenso potencial educativo, pela capacidade de mobilizar ações nos territórios, de influenciar o debate público e de incidir nas políticas que moldam nosso futuro comum. Esta Carta expressa e reafirma esse compromisso."
Frei Paulo Xavier Ribeiro, Coordenador da Comissão de Ecologia Integral da Arquidiocese de Manaus, destacou o caráter integrador do processo: “Foi enriquecedor podermos dialogar e encontrar tantas pessoas que compartilham dessa mesma visão e compromisso. Juntos, construiremos esse caminho de comunhão com a Criação e com todos os seres humanos, reconhecendo que é possível vivê-lo em fraternidade, como verdadeiros irmãos e irmãs.”
Clemir Fernandes, Diretor Executivo Adjunto do ISER (Instituto de Estudos da Religião), enfatizou a necessidade de convergência: “A urgência e gravidade da crise climática exigem um choque ético para tomada de posições e decisões ousadas em prol da vida e do bem-viver no planeta. Ciência, espiritualidade e política precisam somar saberes e esforços, em diálogo com povos originários, para justiça socioambiental de toda a natureza.”
Ivo Pereira da Silva, Professor da Universidade Federal do Pará, manifestou: “A Declaração do Rio Negro é um chamado ético e espiritual à humanidade para reencontrar a importância de viver em comunhão harmoniosa com a Terra. Nascida às margens do Rio Negro, sua voz ecoa para o mundo como manifestação vigorosa do compromisso coletivo de cuidar da nossa Casa Comum.”
Rodrigo Vitorino Souza Alves, Pesquisador Líder do Centro Brasileiro de Estudos em Direito e Religião (CEDIRE) e Professor da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), destacou a dimensão jurídica: “A crise climática constitui uma grave violação de direitos humanos: o direito à vida, à água, à alimentação e a um meio ambiente limpo, saudável e sustentável são negados diariamente às populações mais vulneráveis do planeta. A Declaração do Rio Negro, proclamada na Amazônia, traduz em compromissos éticos o que a ciência confirma e o direito internacional determina. A COP30 deve estabelecer mecanismos vinculantes que protejam os direitos dessas populações, reconhecendo que não há dignidade humana sem ação climática justa e equitativa.”
Chamado à Ação e Compromissos Setoriais
A Declaração estabelece um chamado à ação que inclui limitação do aquecimento global a 1,5ºC, proteção integral dos povos e territórios da floresta com demarcação de terras indígenas e valorização de saberes ancestrais, fortalecimento de políticas de prevenção a desastres climáticos, acesso universal à água potável e alimentos nutritivos, investimento em educação ambiental transversal, engajamento da juventude, remuneração justa a quem protege ecossistemas e respeito aos limites da natureza.
O documento dirige compromissos específicos a cinco setores: convoca governos a adotar metas ambiciosas de redução de emissões e políticas de transição justa; exige do setor privado alinhamento corporativo aos objetivos climáticos e eliminação do desmatamento nas cadeias de suprimento; propõe às comunidades religiosas educar sobre dimensões espirituais da crise climática e respeitar crenças ancestrais; convida a sociedade civil a manter vigilância sobre compromissos e construir movimentos de base; e orienta o setor educacional a formar pessoas conscientes e capacitadas para garantir um meio ambiente sustentável.
Instrumento Aberto e Disponível
A Declaração é um instrumento aberto, disponível para ser utilizado por qualquer pessoa, comunidade ou movimento comprometido com a defesa da vida em todas as suas formas. O documento fundamenta-se em rica tradição de pronunciamentos sobre meio ambiente e clima, incluindo textos religiosos, declarações, encíclicas e experiências de numerosas tradições religiosas, espirituais, éticas e culturais.
O documento está disponível em português, espanhol e inglês em https://www.direitoereligiao.org/forum/direitos-humanos-meio-ambiente-e-religiao/declaracao.
Sobre a COP30
A 30ª Conferência das Partes sobre Mudança do Clima (COP30) acontece em Belém, capital do estado do Pará, na Amazônia brasileira, neste mês de novembro de 2025. A Declaração do Rio Negro está sendo apresentada durante a conferência, posicionando este encontro como uma oportunidade crucial para transformar compromissos climáticos em ações concretas e mensuráveis.
Para mais informações:
Centro Brasileiro de Estudos em Direito e Religião (CEDIRE)
Universidade Federal de Uberlândia
Email: contato@cedire.org.br
Website: www.direitoereligiao.org