NOTA CONCEITUAL DO EVENTO
Embora as culturas ancestrais das comunidades indígenas e de ascendência africana tenham realizado valiosas contribuições para a sociedade em geral, os direitos essenciais destas comunidades têm sido violados há muito tempo. A era pós-colonial não conseguiu pôr fim à discriminação e à exploração que têm sofrido.
As questões do equilíbrio entre os direitos coletivos dos povos indígenas e das religiões de matriz africana e a liberdade religiosa dos seus membros, bem como de outros membros da comunidade, são importantes no nosso mundo de hoje. As reuniões do G20 no Brasil em 2024 oferecem uma oportunidade significativa para abordar essas questões. O processo do G20 abre oportunidades para contribuições do Sul Global, incluindo conhecimentos recolhidos a partir da experiência de comunidades distintas. A Presidência brasileira, por exemplo, publicou recentemente um livreto sobre o G20 na língua indígena Guarani, abrindo possibilidades para ampliar a participação dos povos indígenas no processo do G20.
As três prioridades globais do governo brasileiro para a sua Presidência do G20 são: a luta contra a fome, a pobreza e a desigualdade; as três dimensões do desenvolvimento sustentável (econômica, social e ambiental); e reforma da governança global. Estes objetivos são claramente relevantes para todas as pessoas, mas têm um significado especial para determinados grupos.
O Brasil tem fortes compromissos e um histórico positivo de proteção dos direitos das comunidades religiosas e das minorias, e novos avanços no que diz respeito aos desafios que envolvem os povos indígenas e grupos religiosos vulneráveis ajudarão a promover as prioridades do país. Esses avanços beneficiarão claramente as duas primeiras prioridades do Brasil, e de algum modo contribuirão para o progresso de todas as três prioridades.
Questões práticas importantes devem ser abordadas. Por exemplo, o esforço para explorar recursos naturais pode violar a integridade de locais ou ecossistemas inteiros considerados sagrados pelos povos indígenas. As tradições e os valores das comunidades indígenas e de ascendência africana podem entrar em conflito com os direitos de liberdade religiosa dos membros dessas comunidades e dos grupos religiosos que com elas entram em contato. Questões significativas giram em torno das formas como a educação pública oferecida aos jovens indígenas deve ser estruturada de modo a minimizar o conflito com os valores e ensinamentos tradicionais e religiosos. Os impactos relacionados podem agravar os problemas de fome, pobreza e desigualdade, e prejudicar a realização dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). Sinalizam a necessidade de reformar a governança global para ter melhor em conta as tradições, os valores espirituais e a autonomia coletiva dos povos indígenas.
A conferência pretende lançar luz sobre estas questões importantes e sugerir soluções no que diz respeito à proteção dos direitos e valores tradicionais e espirituais dos grupos indígenas, comunidades de ascendência africana e outros indivíduos afetados. O objetivo é identificar formas concretas de envolvimento com os povos indígenas, comunidades afrodescendentes e outros grupos religiosos de uma forma que proteja tanto os direitos coletivos como o direito à liberdade religiosa para todas as pessoas individualmente consideradas. Feito corretamente, isso também deverá promover as principais prioridades do Brasil no processo do G20.
A conferência inclui uma série de discussões por especialistas que abordam questões-chave enfrentadas por grupos indígenas, comunidades de ascendência africana e minorias religiosas. Centra-se na promoção de direitos, e não nas tensões e no discurso combativo. O Brasil tem algumas tensões e problemas, mas essa não é a principal característica da diversidade brasileira. O objetivo é desenvolver análises profundamente fundamentadas de problemas recorrentes que possam levar a uma melhor compreensão das questões subjacentes e contribuir para soluções. Embora o foco esteja nas questões que surgem no Brasil, a discussão pode ajudar a apontar soluções em outros países. O sucesso do Brasil em lidar com muitas dessas questões na superação de problemas e no cultivo do respeito à diversidade pode ser exemplar para muitos outros países.